quinta-feira, 15 de março de 2012

O ensino de Filosofia no ensino médio: por uma prática pedagógico-filosófica (re) criadora


O ensino de Filosofia no ensino médio: por uma prática pedagógico-filosófica (re) criadora

De: Saulo Eduardo Ribeiro*

Muito já se falou a respeito da atividade filosófica ou, ainda antes, da natureza da Filosofia. Em relação a isso, ao pesquisar por artigos sobre a temática do seu ensino, a máxima kantiana segundo a qual „não se ensina filosofia, mas a filosofar‟ emerge rapidamente. Esse tem sido o corolário para aqueles que, assim como eu, defendem uma abordagem que não seja centrada na história da filosofia. Ao negar a centralidade dessa abordagem entramos em um terreno de múltiplas possibilidades e riscos, visto a complexidade da tarefa de fazer os alunos de ensino médio aceder “a uma competência discursivo-filosófica”.

Desse modo, o ensino de filosofia por se tratar de uma atividade filosófico-pedagógica no ensino médio, deve assumir outro aspecto, diverso daquele desenvolvido na academia. Aqui, a filosofia a ser desenvolvida é compreendida como uma “filosofia menor”, em contraposição à “filosofia maior” desenvolvida nas universidades. A respeito dessa distinção, em “Entre Kafka e Foucault: literatura menor e filosofia menor”, Silvio Gallo diz:

recorrendo uma vez mais à noção de filosofia de Deleuze e Guattari, uma „filosofia maior‟ partiria de um plano de imanência já traçado, de personagens conceituais já inventadas: logo, os conceitos a serem criados nada mais seriam do que simulacros. Uma „filosofia menor‟, ao contrário, buscaria o estranhamento, traçaria novos planos, inventaria novas personagens, criaria conceitos sempre novos. Em suma, daria voz a discursos distintos, faria falar aqueles postos à margem pelos poderes instituídos (2004, p. 73-88).

A possibilidade de uma “filosofia menor” traduz-se na possibilidade de concebermos a atividade filosófica no ensino médio como criação de conceitos. Esta atividade de criação não pode ser confundida com aquela preconizada pela “filosofia maior”, que parte “de um plano de imanência já traçado”, isto é, de algo tomado a priori como inseparavelmente contido na natureza de um conceito. A atividade filosófica de criação de conceitos parte dos acontecimentos e não da coisa em-si; desse modo, essa tarefa se coloca em sala de aula a partir do surgimento de “situações-problemas”, que são a razão de ser dos conceitos.

Em um sentido deleuze-guattariano, o conceito refere-se a um estado de coisas em que se realiza um acontecimento e, desse modo, “... considerar o conceito um acontecimento implica também considerar que o filosofar deve se ater às circunstâncias implicadas na criação conceitual, aos casos, onde, quando, como etc.” (GALLINA, 2004, p. 369). Portanto, para o caso que aqui interessa, isto é, o momento da sala de aula, esta atividade criadora efetiva-se na medida em que o professor souber fazer emergir da realidade dos alunos/estudantes os problemas que darão sentido ao desenvolvimento dessa tarefa.

Ao criticar a abordagem didático-pedagógica centrada no trabalho com a história da filosofia, não se está colocando em cheque a relevância da mesma na prática do ensino de filosofia. O que se está propondo é um trabalho que, ao mesmo tempo em que se evita partir daquilo que Silvio Gallo chamou “de personagens conceituais já inventadas”, estabeleça uma relação transformadora com estes personagens. Na medida em que aqueles problemas surgidos da realidade vivida dos alunos dão margem à criação conceitual, eles podem ser relacionados a outros conceitos e acontecimentos, tornando a prática de ensino um constante processo de (re) criação.

Ao conceber a atividade filosófica como criação de conceitos, procuro estabelecer uma relação entre minha prática de ensino e as abordagens construtivistas. A perspectiva sócio-construtivista de ensino e aprendizagem contribui para a construção de uma nova proposta didático-metodológica para o ensino de filosofia, pois este deixa de ser visto como a transmissão de “pacotes de conteúdos” acerca da sua história, pois possui uma dimensão criativa que deve envolver o aluno.

Até o momento me limitei a falar em que pode consistir a atividade filosófica em sala de aula, resta falar agora como esta atividade pode ser realizada, isto é, sobre aquilo que poderá abrir caminho(s) para a sua realização.

O restante desse artigo pode ser lido no endereço:
http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/revislav/article/viewFile/4095/2933

*Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (2010). Mestrando do PPGE/UFSM